Vamo onde?

No final dos anos 90, toda sexta-feira, lá pelas 17h, eu recebia uma ligação com a clássica pergunta: E aí, vamo onde?

Minha resposta dependia do dia do mês em que essa pergunta era feita. Se fosse próximo ao dia 5, que era quando meu salário de office-boy caia na conta, a resposta era sempre a mesma: The Fifties.

É, isso mesmo. Uma hamburgueria. Tô falando de uma época que tinham poucas lanchonetes dessas que vendiam hambúrgueres artesanais “gourmet” em um ambiente “retrô”. Aliás, essas palavras entre aspas nem eram utilizados na época. O que dizer do Pic Burger, um hambúrguer de picanha? Lembro do gosto até hoje. 

Eu sei, você deve estar pensando “bela bosta”. Hoje eu sei que parece ridículo, mas esse era nosso conceito de extravagância: ir ao The Fifties um dia no mês, de preferência antes de uma balada na Vila Olímpia. Afinal, já estávamos lá mesmo…

Cabe um comparativo: um trio do McDonald’s nessa época custava R$ 4,50. Uma ida ao The Fifties, comendo um lanche, uma Coca e dividindo a batata, custava R$ 14. Pra quem tinha um salário de R$ 225, era uma maluquice gastar essa fortuna.

A gasolina custava R$0.90 o litro e a gente, quando dava, ajudava o motorista da vez a abastecer o carro.

Ou seja, ir até lá, nessa época, era um grande evento.

O senhor Ademir, tio do Petão, era um dos gerentes da casa. Nem de longe lembrava o inigualável “Demirão”, que eu conhecia dos feriados em São José da Barra, interior de Minas Gerais.

Conhecê-lo nos dava uma sensação de poder. Na nossa cabeça, cumprimentar o gerente do The Fifties com uma certa dose de intimidade, poderia dar a impressão às outras pessoas que éramos clientes assíduos do lugar.

Pra mim, ir até lá era a oportunidade de ver a vida além da minha realidade de office-boy, que só comia pastel no seu Ítalo e um dog no Marcão, por um real!

O tempo foi passando, as coisas melhorando, começamos a ir com outras pessoas, ficamos amigos dos garçons…até demais.

Uma vez eu fui lá com uma menina e deixei cair o documento do carro. Dias depois, voltei lá com outra menina, que era, como dizem hoje, meu “contatinho oficial” e o garçom veio todo sorridente falando pra eu tomar cuidado pra não deixar o documento do carro cair de novo.

Aquele clima delicioso na mesa, encerrado com um “tá me confundindo, doidão?”

Eu fui até lá em diversas ocasiões: sozinho, com amigas, depois do pagode, com amigas no Dia dos Namorados, só pra aproveitar a promoção, com a galera da faculdade…

Em uma fase difícil da minha vida, ia sozinho pra lembrar os bons tempos com meus amigos.

Também foi o primeiro lugar que levei a Jacque pra comer quando saímos a primeira vez.

No último sábado, o Rafa veio me visitar e o combinado era Final da Champions + Tod Dog, outro lugar marcante pra gente. Mas o bendito só abriria as 18h.

Eis que ele teve a ideia de passar no The Fifties pra pegar um Pic Burger e trazer pra cá. Ao chegar, ele deu de cara com uma obra e foi avisado que o The Fifties tinha fechado. Perguntou onde era o outro mais próximo e recebeu a notícia:

– O The Fifties faliu. Todas as unidades fecharam.

Porra, como assim faliu?

Eu não sei se tô muito emotivo, mas fiquei triste com a notícia. Era como se algum portal que me levasse pra boas lembranças tivesse fechado.

Hoje eu e meus amigos daquela época pouco nos falamos. Tirando o Rafa, pouco falo com os outros. Mesmo nesse último ano, quando minha vida virou do avesso.

Lembrar do The Fifties é trazer de volta essas pessoas que sempre serão especiais pra mim. Nossas conversas não tinham expressões em inglês como “deadline” e “call” e não tínhamos os “smartphones” pra dividir a atenção do papo.

Eram outros tempos, éramos outras pessoas e no final, parece que aquela galera da Zona Norte, que a época, só queria ir do outro lado da ponte, deu certo.

Cada um à sua maneira, pôde ir ao The Fifties quando bem entendesse, sem pensar em quanto ia gastar, se dava pra pedir sobremesa ou deixar o carro no estacionamento.

Quem me viu entregar o passe de ônibus na hora de pagar a conta, sabe o que eu tô falando…

2 comentários em “Vamo onde?

  1. Eu curtia pakas o the fifties, fui varias vezes tambem, quando abriu aqui em Jundiaí, fiquei super feliz..
    Quando soube que faliu fiquei mega triste… Mas boas lembranças de lá.

    Curtir

Deixe um comentário