Você tem lembranças com…

Há exatamente um ano, no dia 22 de maio de 2021, eu fui buscar um presente que minha eterna professora e uma das mães que eu tenho nessa vida fez pra mim: uma torta de frango com palmito.

Sim, o Facebook que me contou que hoje faz um ano. Entre uma torta e outra, muita coisa aconteceu nas nossas vidas. Na minha, na dela, na sua…Pense no quanto sua vida mudou no último ano.

A minha você já sabe. E a sua? Melhorou, piorou, ficou na mesma? Pense nisso.

Eu fiquei anos sem ver a professora Wanda. Nos vimos ano passado, nesse dia que fui buscar a torta, conversamos um pouco na porta do prédio dela, mas nada de abraços, porque não estávamos vacinados contra a COVID.

Me lembro que não achava justo não poder abraçar, depois de tanto tempo, uma pessoa tão importante na minha vida, por vários motivos.

Primeiro que ela é mãe de grandes amigas minhas, “as gêmeas”. Em 88, quando conheci as duas, achava engraçado as pessoas se confundirem ao chamá-las. Acho que posso ser uma das poucas pessoas a se gabar de nunca chamar a Laís de Luiza e vice-versa.

A professora Wanda também foi importante em uma questão que me incomodava muito na escola. Eu ainda não sabia o que era TDAH e muito menos que eu tinha esse transtorno. As freiras achavam que eu era preguiçoso, porque vivia olhando pro nada, não me deixavam sentar próximo à janela, que eu distraía os outros alunos e quando tinha que ler em voz alta, gaguejava. Segundo elas, eu era assim porque não ia às missas de domingo a tarde na escola.

Enquanto as outras professoras me forçavam a ler, mesmo que fosse pra me ver vermelho de vergonha e a ponto de chorar, a Dona Wanda foi a única que percebeu que aquilo me fazia mal.

Um dia, teria os leitura na aula de Geografia, já estávamos previamente avisados. Como ela impunha respeito, nós, da turma do Fundão, ficávamos em silêncio assim que o All-Star vermelho direito pisava na sala.

Nesse dia, eu já estava quieto quando ela entrou. De repente, ela me olhou e sorriu. Vagarosamente, ela veio andando em minha direção. Eu baixei a cabeça e vi os All-Stars Vermelhos se aproximando…

– Tá tudo bem?

– Tudo…

– Por que você não quer ler?

– Eu não consigo ler em voz alta, não sei o que acontece, mas eu fico desesperado e começo a gaguejar.

– Vamos fazer assim: eu não vou te chamar hoje, fica tranquilo. Presta atenção na leitura e faz o exercício. Depois a gente conversa. Mas não espera eu te perguntar quando você tiver um problema. Me procura que a gente tenta resolver. A vida é assim, nem sempre as pessoas vão conseguir ajudar você quando tem problema. Tem que partir de você. Tá com problema? Fala!

Ela sempre foi assim, personalidade forte, sempre se posicionou, mesmo que isso custasse seu sossego. Ela foi a primeira professora que eu me lembro de falar um política na escola, a bordo do All-Star vermelho, para o desespero de alguns, se é que você entende. .

Muito obrigado por tudo, Dona Wanda, por me ensinar tanto na vida, especialmente sobre ultrapassar as fronteiras, não a dos países, mas as minhas.