Filho meu…

Uma noite fria, silenciosa, ruas vazias…

Aos poucos, o silêncio era quebrado pelo som de passos, lentos, porém firmes, nas ruas da vizinhança, rumo a uma praça iluminada pela lua cheia e algumas luzes nos postes.

Era uma reunião dos moradores do bairro. Não todos. Muitos anciãos, homens e mulheres sábios, que, ao lado de jovens de destaque, formavam uma espécie de conselheiros da quebrada.

Quando cheguei, vi minha esposa e minha mãe chorando, ao lado da minha sogra, que parecia estar confortando as duas. Como se estivessem sabendo de algo que ainda seria anunciado.

De repente, fui chamado ao meio dessa praça por um senhor de voz doce, calma e tranquila.

– Venha, meu filho. Chegou a hora.

Sem entender nada, mas sem medo, me dirigi ao lugar destinado a mim e sentei. Me lembro do frio do banco de pedra, parecido com um trono, nas minhas costas. E da paz que senti quando um homem e uma mulher ficaram de pé atrás de mim e colocaram suas mãos nos meus ombros.

De repente, a mulher envolveu meus ombros em um tecido, como se fosse uma capa. Todos na praça se ajoelharam e ela começou a falar, com uma voz muito forte, mais ou menos assim:

– Filho meu, durante a vida, você foi preparado para esse momento. Você vai se sentir sozinho as vezes, mas não vai estar. Todos nós vamos estar ao seu lado, a cada segundo, amparando você nessa longa caminhada. Inclusive elas, que não vão duvidar disso nem um minuto. Quando você sentir que não tem mais forças, persista. Quando você pensar em desistir, lembre-se: você foi escolhido para nos representar. Não se pergunte por que, porque só Ele tem essa resposta. E não se preocupe com os que ficam aqui enquanto isso, todos serão bem cuidados por nós. Fique em paz.

De repente, tudo escureceu…

Ao clarear, eu estava sozinho, sentado no mesmo lugar, mas me sentia diferente…Mais forte, porém, com um peso no corpo, como se vestisse uma armadura.

Não sei porque, mas só hoje me lembrei desse sonho que tive durante uma das 40 noites que passei em coma induzido no hospital. Aos poucos estou me lembrando de coisas que “vivi” no universo paralelo durante esse período.

O que ele realmente significa, não sei ao certo, mas vou descobrir e te conto.

Um comentário em “Filho meu…

  1. Republicou isso em Não tem textãoe comentado:
    Este é o Léo, meu grande amigo por quem tenho um carinho e identificação enormes há quase oito anos. Posso percorrer vários sites, e não encontrarei alguém que escreva textos tão bem quanto ele. Quando se escreve com o coração e não com a carteira, o resultado é esse: textos incríveis, de uma sensibilidade impressionante. Espero que, como eu, também gostem.

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