Não puxe o gatilho…

Se você pensa que esse texto tem algo a ver com suicídio, assassinato, bala de revólver, esquece. Não é desse tipo de gatilho que eu tô falando.

Também não tô falando dos gatilhos que eu usava nos meu textos pra vender mais e mais, como “tenha acesso ao segredo que os milionários guardam às 7 chaves” ou “essa decisão vai influenciar sua vida financeira nós próximos 20 anos.” E por aí vai.

Tô falando dos gatilhos que te lembram de algo ruim, que levam você pra um lugar desconfortável, más lembranças e ajudam a reviver algumas situações por alguns minutos.

A maioria desses gatilhos me levam de volta à cama do hospital, quando eu não falava ou não conseguia mexer nada abaixo do pescoço.

E esses gatilhos são tão espertos, que se escondem em coisas que, a princípio, não tem nada a ver.

Um exemplo: eu estava conversando com a minha fisioterapeuta sobre futebol e ela perguntou se o jogo entre Brasil e Argentina, que foi adiado, não ia ser disputado.

Assim que ela perguntou, fui transportado para o dia 5 de setembro, sentado em uma poltrona desconfortável, que me causava dores horríveis, com uma máscara respiratória que me sufocava.

Foram 3 horas na mesma posição, usando essa máscara, enquanto a televisão mostrava esse jogo que acabou não acontecendo.

Nesse dia, também passou o filme “Rampage”, que também me leva pra esse dia horrível.

Esses dias estreou uma série na Netflix, “3 toneladas”, que fala sobre o assalto no Banco Central, no Ceará. Eu tava doido pra ver, mas só consegui ver 5 minutos.

Sim…porque assim que começou a mostrar cenas do túnel estreito e apertado, me lembrei da sensação de estar na tomografia, com a sensação de estar em uma máquina que ia fechar comigo dentro.

Mas antes que você pense que isso me desanima ou me deixe triste, já adianto que esses sentimentos duram alguns segundos… Quando eles vêm, eu penso em tudo que eu vivi pra chegar onde estou hoje.

Falando, me mexendo e em breve dando meus passos por aí. Lembro sempre que Deus me deu uma nova chance de viver e cumprir minha missão nesse mundão maluco.

Se você quiser saber como eu estou hoje, 10 meses depois de ser entubado, saiba que eu estou muito bem, feliz e com muita vontade de viver!

Sei que o pior já passou e essas lembranças que parecem ruins, tem seu lado bom…

São apenas lembranças.

2 comentários em “Não puxe o gatilho…

  1. Pode ser terrível viver quando situações simples são ameaças, não é mesmo? Mas você está se saindo muito bem e eu sinto uma enorme alegria por isso!
    Quando eu estava internada, antes do meu filhinho nascer, eu assistia Ragnarok pra passar o tempo lá no hospital. Mas quando o Lucas morreu, eu passei a sentir um frio na espinha só de pensar naquela série. Os dias passaram e eu decidi encarar o pânico e assisti a todos os episódios que faltavam. Foi horrível, mas depois passou e eu não tenho mais medo de lembrar daqueles dias.
    Eu também fiquei com pavor de olhar ao relógio após às 2h da manhã, é que o bebê nasceu às 2h22 e eu não queria jamais reviver aquela situação, aquele medo terrível que eu senti durante o parto. Mas aí um belo dia, aliás, numa bela madrugada, eu acordei e, sem saber que horas era, olhei para o relógio. Era exatamente 2h22. Eu fiquei paralisada, em choque, chorei pra caramba, mas passou e eu já vi o relógio marcar 2h22 outras vezes. Ainda não é legal, mas estou aprendendo a lidar com esse e outros gatilhos.
    Devagar a gente supera, ainda há muita vida pra viver.
    Eu estou muito orgulhosa de você!

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